Nem tudo se há de conceder, nem a todos. É tão importante
quanto o saber conceder, e nos que mandam é consideração indispensável. Aí
entra o modo. Mais se preza o não de alguns que o sim de outros, porque um não
dourado satisfaz mais que um sim a seco. Há muitos que têm sempre um não na
boca. Neles o não é sempre o primeiro, e, ainda que depois tudo venham a
conceder, não se entende por que precedeu aquela primeira mágoa. Não deverão as
coisas ser negadas de chofe: sorva-se aos tragos o desengano; nem se negue de
todo, que seria desesperar a dependência. Que fiquem sempre alguns vestígios de
esperança a temperar o amargor do negar. Que a cortesia encha o vazio do favor
e que as boas palavras supram a falta das obras. O não e o sim são breves de
dizer, e pedem muito pensar.
Baltasar
Gracián y Morales, em 'A Arte da Prudência'
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