Dia do Dia 01/01/2016
- A
Consciência Débil da Nossa Autenticidade
A consciência que te acompanha no que vais sendo é o puro
registo disso que vais sendo para o poderes ler, se quiseres, depois de já ter
sido. Mas no instante de seres o que és, o que és é apenas, por uma decisão
anterior ao decidires. O que és é-lo onde a tua realidade profunda em
profundeza obscura se realizou. O que és é-lo no absoluto de ti. A consciência
testifica-nos apenas como o ser privilegiado que sabe o que é por aquilo que
vai sendo e pode assim reconverter-se à posse iluminada disso que vai sendo. A
consciência constata, mas não interfere senão para se não ser mais o que se
foi, ou mais rigorosamente, para se não querer ser o que se é - o que é ser-se
ainda, embora de outra maneira.
Porque se neste instante me sobreponho, ao que sou, outra
maneira de ser - a consciência que me altera o primeiro modo de ser é a
paralela iluminação do modo de ser segundo. Decidi ainda antes de decidir,
quando decidi não ser o que primeiramente decidira. Assim no torvelinho dos atos
que me presentificam e da consciência desses atos, sempre o insondável de nós
se abre para lá do que podemos sondar. Sempre a realidade de nós é a realidade
original que na origens se gera. Sempre a autenticidade de nós está a uma
distância infinita das razões que a justificam.
Vergílio
Ferreira, em 'Invocação ao Meu Corpo'
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