Dia do Dia 14/08/2014
- A Consciência Débil da Nossa Autenticidade
A consciência que te acompanha no que vais sendo é o puro registo disso que vais
sendo para o poderes ler, se quiseres, depois de já ter sido. Mas no instante de seres o
que és, o que és é apenas, por uma decisão anterior ao decidires. O que és é-lo onde a
tua realidade profunda em profundeza obscura se realizou. O que és é-lo no absoluto
de ti. A consciência testifica-nos apenas como o ser privilegiado que sabe o que é por
aquilo que vai sendo e pode assim reconverter-se à posse iluminada disso que vai
sendo. A consciência constata, mas não interfere senão para se não ser mais o que se
foi, ou mais rigorosamente, para se não querer ser o que se é - o que é ser-se ainda,
embora de outra maneira.
Porque se neste instante me sobreponho, ao que sou, outra maneira de ser - a
consciência que me altera o primeiro modo de ser é a paralela iluminação do modo de
ser segundo. Decidi ainda antes de decidir, quando decidi não ser o que primeiramente
decidira. Assim no torvelinho dos atos que me presentificam e da consciência desses
atos, sempre o insondável de nós se abre para lá do que podemos sondar. Sempre a
realidade de nós é a realidade original que na origens se gera. Sempre a autenticidade
de nós está a uma distância infinita das razões que a justificam.
Vergílio Ferreira, em ''Invocação ao Meu Corpo''